O grupo terapêutico para aqueles que fazem uso abusivo de álcool ou outras drogas se insere entre um dos dispositivos de tratamento ofertados na clínica-dia do Freud Cidadão.
Este é um dispositivo que parte da proposta, orientada pela psicanálise, não de se fazer grupo, mas, sim, da oferta de um espaço para que a palavra circule. Os encontros acontecem semanalmente, uma roda de conversa em que cada um é convidado a falar da singularidade da sua relação com o álcool ou a droga. O grupo é uma prática da palavra, não para que os participantes se sintam aliviados ao falar, mas um convite para que cada um ali presente elabore questões que desalojem a fixidez do uso desregrado de uma substância psicoativa.
No Freud Cidadão, os pacientes podem contar tanto com o dispositivo do grupo terapêutico, que aborda o uso abusivo da substância, como com uma equipe de psicólogos e psiquiatras especialistas no atendimento dessa questão e oficinas artísticas.
O desafio do trabalho clínico com esses pacientes consiste na possibilidade de se abrir uma brecha para a palavra, permitindo a emergência de mediações simbólicas onde se tem a repetição de um ato ritualizado de uso. Adriana Vitta (2013) nos indica que “podemos observar uma precariedade simbólica, em que os sujeitos encontram na impulsão pelo ato, incluindo aí o uso da droga, uma saída para aliviar a angústia”.
Partimos do pressuposto que a substância e seu uso, muitas vezes abusivo, assumem, para aquele que a consome, uma função específica. Localizar, para cada um, a que a droga ou o álcool serve, o que está em jogo no modo desregrado e, portanto, prejudicial do uso, é fundamental e o que orienta nosso trabalho.
Na escuta desses pacientes, o que verificamos é que algo não vai bem, já que são pessoas atravessadas pelos mais diversos sofrimentos: não saber lidar com as exigências da vida social, seja no trabalho, no relacionamento familiar ou amoroso; um sem sentido da vida que aparece, por vezes, em sintomas depressivos; a invasão de pensamentos ou vozes não controláveis. Diante do sofrimento que o atravessa, o sujeito pode encontrar, na droga, um recurso de apaziguamento, um alívio e uma satisfação.
A escolha da droga e seu uso se explica, portanto, como um bem em condições de anestesiar o impossível de suportar do laço social. Nesse sentido, é importante localizar que a direção do tratamento não se dá a partir de um ideal da abstinência do uso, como alertado no texto apresentado no Ateliê de Pesquisa 2013 e postado em nosso blog:
Cessar o uso da droga a qualquer custo pode então ser extremamente perigoso para alguns sujeitos, pois, muitas vezes, podemos nos deparar com o desencadeamento de uma psicose, por exemplo. Quando um sujeito vai em busca da droga, ele vai em busca de uma solução. Se pretendemos cessar um uso, é preciso prudência para encontrarmos o diagnóstico da função que a droga tem para aquele sujeito e prudência também para encontrarmos uma nova solução que possa tomar o lugar da droga. (VITTA. et al. 2013)
É a partir da noção de que o uso de uma substância envolve um alívio e uma satisfação que apostamos em um tratamento que permita a cada um construir outras saídas para o que lhe é insuportável, saídas menos mortíferas, menos prejudiciais.
O que nos orienta é uma escuta aberta e atenta ao sofrimento de cada um, uma aposta de que a construção de um tratamento só se faz possível a partir da singularidade de cada sujeito na sua relação com o álcool e a droga. “Para ir em direção ao sujeito, é preciso então acolher o que se apresenta, a princípio, como únicos recursos: a droga e o ato. Para o que não tem governo, tampouco cura, há tratamento, pois ainda nos restam a palavra e a nossa aposta no inconsciente” (VITTA, 2013).
Para ler o texto de Adriana Vitta na íntegra, publicado no Almanaque Online do IPSM MG, confira o link abaixo:
https://drive.google.com/file/d/1XhGpnCDj-QjY8oLDk_RlG0pe2rWzamKU/view?usp=sharing
Clique em uma das opções ou agende diretamente uma consulta clicando aqui ou ligando ou escrevendo (via Whats App):
Telefone (ou WhatApp): (31) 99218 0676 /
3213-7857 / 3227-2306