A relação entre a arte e a psicanálise está posta desde o nascimento da psicanálise, perpassando mais de trinta anos da obra de Sigmund Freud. Há uma rica bibliografia que apresenta e discute as elaborações freudianas sobre a arte e os artistas, e os autores desses textos parecem concordar em relação a uma dupla vertente da abordagem da arte por Freud: de um lado, ele aposta na possibilidade de interpretar as produções artísticas, tendo-as como equivalentes das formações do inconsciente; por outro lado, ele se depara repetidamente com restos inapreensíveis dessas produções, que se colocam como limites de seu esforço de compreensão.
O diálogo entre arte e psicanálise iniciado por Freud foi continuado por diversos psicanalistas que o sucederam e articularam os dois campos a partir de suas próprias bases teóricas, tais como Jacques Lacan, que recorre diversas vezes a produções das artes plásticas e literárias para transmitir seu ensino. Apesar de se remeter à teoria de Freud sobre os artistas, o psicanalista francês parece, ao mesmo tempo, se afastar dele, apontando os limites da interpretação analítica das obras e dos seus criadores. A partir da perspectiva lacaniana, o eixo para o qual deveríamos voltar a nossa atenção seria menos a relação do artista com a sua produção e mais o efeito dessa produção sobre o espectador ou leitor.
No Freud Cidadão a relação entre arte e psicanálise se dá, primordialmente, por meio das oficinas artísticas, que são parte fundamental da oferta de tratamento da instituição, e se voltam para diferentes linguagens e fazeres como mosaico, artes visuais, música, cerâmica, letras, vídeo e fotografia, entre outros. A diversidade de linguagens artísticas responde a uma lógica que aposta no trabalho com a singularidade, em um uso único que cada participante faz do espaço e do próprio tratamento.
Essa centralidade das oficinas no espaço de tratamento é tributária de diversos fatores: a orientação psicanalítica, o legado da experiência inovadora de Nise da Silveira e a dimensão política da reforma psiquiátrica brasileira. Em relação a essa última temos, com o modelo de atendimento de saúde mental ali proposto, o papel das oficinas nos serviços tanto de um viés terapêutico quanto de inserção social. Assim, as oficinas terapêuticas resultam de uma associação entre a clínica e política, na interface entre as noções de sujeito e cidadão.
Nessas oficinas, há um giro ético decisivo quando a ênfase é posta na dimensão artística. O destaque dado à criatividade e ao teor artístico nas oficinas marca uma mudança fundamental na abordagem do sofrimento mental e suas propostas de tratamento no Brasil, que permite pensar o trabalho e a produção pela via da autoria, da criação e da implicação da subjetividade. Essa ética é, portanto, consonante com a ética psicanalítica, que aposta no encontro de cada um com uma solução singular para seu sofrimento.
Assim, a presença do trabalho artístico se dá como possibilidade de um deslocamento não apenas em relação à alienação do trabalho, mas à própria alienação do sofrimento mental. Assim, podemos pensar que o destaque na dimensão artística das oficinas se apresenta como uma direção que aponta para a possibilidade da ocorrência de experiências poéticas, deslocamentos subjetivos, do surgimento do novo, da criação.
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