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Cartografias Transferenciais

Escrito em: 30 de março de 2023 Autor: Pedro Braccini
circulo retangulo

Para delimitarmos um pouco nossa questão, poderíamos dizer que uma instituição é
primeiramente e de um modo bem geral definida como um sistema de defesa necessário, mas
cuja característica essencial seria de canalizar trocas e inter-relações. Encontramos aqui um
dos eixos principais da terapêutica institucional segundo G. Michaud, que nos lembra da
necessidade de estabelecer sistemas com uma estrutura simbólica própria, na qual haja uma
obrigatoriedade de trocas – de dar e de receber – implicada na própria existência do sistema. O
circuito de trocas, canalizado dessa forma a partir de uma lei local, vai permitir na sua dialética
a emergência do significante na fala ou nos atos. Nessa mesma linhagem de psicanalistas
institucionalistas que se inscrevem na referência ao ensino de J. Lacan, J. Oury insiste que o
que está em jogo, portanto, é a criação de ocasiões, lugares múltiplos de encontros, em que a
fala possa ser transportada, fazendo viver lembranças de outros encontros mais ou menos
esquecidos. É o propício na criação de alguns momentos de reconhecimento singulares, em
que a invenção possa surgir pouco a pouco na ocasião de encontros imprevistos com objetos,
situações e pessoas. Isso se daria por uma via que se instauraria a partir de um sistema de
revezamento de coisas e corpos.

O que está em jogo é um espaço de certa liberdade de circulação, mas que só opera a partir de
agenciamentos articulados em um nível coletivo, no qual o vetor que enlaça o individuo ao
coletivo não deve se assemelhar a uma corda tencionada – o que A. Beneti denomina “vínculo
frouxo”. A dimensão singular, para não ser opressiva, deve passar por um revezamento do
Outro. Esse coletivo poderia constituir, entre outros, um sistema complexo que faria um jogo
de revezamentos, de articulações compensatórias. Algo que se aproxima do que Sartre nomeia
“terceiro regulador”, manifestando nas trocas um processo de dialetização evidente. Cada um
ao se ver confrontado a esse sistema, seria tomado em seu caminho de angústia pela
articulação na qual vai se encontrar, inclusive como agente de uma dialética que organiza o
conjunto no dia a dia, em variáveis infinitas.

A instituição, que assim como o que chamamos “equipe” não existe em si mesma, deveria
portanto poder permitir a criação de campos transferenciais multifocais, em uma recriação
permanente de circuitos e lugares significantes, que nada mais são que lugares de existência:
lugares de passagem, de encontro, de troca, de clandestinidade, de exibição, de trabalho. As
condições para se criar esses espaços de itinerários singulares com diversas possibilidades de
escolha, é colocar para funcionar atividades, oficinas, saídas, festas, feiras, reuniões,
assembleias, liberdade de circulação, lugares concretos estruturados (cozinha, recepção,
jardim, pátio, etc.), contratos flexíveis, acolhimento permanente. A partir dessas cenas
diversas podemos considerar a pretensão de transformação de certas passagens ao ato fora de
todo sentido em palcos de actings-out, desde que haja em um nível também coletivo a função
operante da interpretação agenciada institucionalmente. Reuniões cotidianas e regulares, por
exemplo, nas quais se discutem casos, em que cada um conta acontecimentos vivenciados
com um ou outro paciente, incitam com o tempo a construção de uma espécie de tecido
simbólico que daria estofo para a retomada de efeitos de corte de cunho interpretativo. Em
um contexto em que as análises individuais são parte operante do sistema, mas não podem se
confundir com a totalidade dele. E a supervisão clinica em equipe com um analista êxtimo, por
sua vez, furaria qualquer veleidade de totalização dos conjuntos.

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