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Podemos nos reinventar

Entrevista concedida ao Copass-Saúde

Escrito em: 13 de agosto de 2020 Autor: Adriana Vitta e Letícia Soares
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No fim de julho, as psicanalistas Adriana Vitta e Letícia Soares concederam uma entrevista para o portal da Associação de Assistência à Saúde dos Empregados da Copasa – Copass Saúde, conveniada ao Freud Cidadão [ https://copass-saude.com.br/posts/podemos-nos-reinventar ]. Na entrevista, as diretoras clínicas da instituição falaram sobre os efeitos da pandemia de COVID-19 e do isolamento social para os sujeitos, apontando os riscos à saúde mental gerados pelo contexto de stress associado à pandemia, mas também indicando algumas possibilidades que se abrem nesse momento de incertezas. Confira abaixo o texto que embasou a matéria:

 

 

Vivemos um acontecimento que podemos chamar de traumático, trauma, no sentido daquilo que marca nossas vidas e estabelece um antes e um depois. Uma pandemia como essa que enfrentamos, traz consequências e efeitos na vida de todos, porém diferencia-se em sua intensidade. Os efeitos negativos, conseguimos acompanhar de perto com o real da morte que se apresenta, as tristes perdas de vidas, assim como os graves prejuízos econômicos e sociais. No entanto, podemos perceber a imensa capacidade do ser humano de se reinventar e encontrar soluções que possibilitem lidar com a crise, o novo. A perda de referências do funcionamento padrão, “normal”, dá abertura para pensarmos na nossa relação com o tempo, espaço, hábitos e criar novas possibilidades de vida mais justas às nossas próprias necessidades e desejos, antes obscurecidas pelo automatismo do cotidiano. Além disso, as condições de reclusão nos possibilitam voltar a modos de comportamentos mais básicos e revalorizar aspectos da vida, que haviam perdido seu sentido, num mundo acelerado e exigente em que vivíamos.

Há medo e insegurança neste momento, sobretudo medo de morrer ou de perder alguém querido. Medo de catástrofes econômicas, desinformação, incerteza com o futuro e sobretudo medo de que o mundo nunca mais volte a ser o mesmo ou que nunca volte a ser “normal”. A constatação, pelos órgãos de saúde mundiais desta crescente onda de medos na população, fez com que no dia 13 de maio de 2020, as Nações Unidas publicassem um documento alertando para o risco de eclodir uma crise paralela à crise sanitária: a crise da saúde mental. O stress prolongado proveniente de todas essas incertezas e mudanças repentinas na vida das pessoas, tem gerado doenças psicológicas com um alto grau de gravidade, chegando ao aumento de tentativas de suicídios, crises de ansiedade e angustia, em pessoas antes adaptadas e aparentemente tranquilas em seu cotidiano. Os profissionais da saúde mental entendem que não há uma fórmula única, tal qual uma receita de bolo, que funcione para todos no sentido de evitar o adoecimento. Sabemos que manter a vida em curso, conectados com os objetivos e projetos individuais, é uma estratégia importante que faz com que nos liguemos à vida e não à morte. Acompanhar as notícias sobre a Pandemia é importante para nos protegermos, mas devemos entender que nossa maior proteção contra o adoecimento é lembrar que estamos vivos e que temos projetos e interesses que nos ligam aos outros e à nossa vida. Por isso, manter uma rotina é importante, ela nos lembra que um dia nasce depois do outro e que as fases ruins passam, e passam mais levemente se estamos ocupados conosco e com o que amamos. Quem está com dificuldades de se ligar aos próprios projetos de vida, precisa procurar ajuda profissional de um psicólogo.

 

Um aspecto que nos parece já visível no comportamento das pessoas é a ansiedade causada pela falta de contato próximo com familiares e amigos íntimos, que são fonte de alívio do mal estar e das angústias que vivemos durante a vida. Não poder compartilhar bons e maus momentos, no corpo a corpo, é uma renúncia muito cara ao ser humano. O toque da pele, o abraço, o cheiro de quem amamos são experiências sensoriais muito primitivas no início da vida de cada um de nós e nos marca de tal forma que conviver é pra nós viver com. Somos seres gregários e sociais e precisamos da proximidade dos outros para nos sentirmos fortes.  Essa experiência de isolamento atual talvez esteja enfatizando essa necessidade, e nos esclarecendo que precisamos e podemos recorrer aos outros quando nos sentimos frágeis e que, para além do âmbito familiar, existem profissionais da saúde mental capacitados em escutar e acolher a dor de existir de cada um. E acolher também as dificuldades que surgem da convivência com as pessoas. Somos seres sociais, mas (con)viver exige muito de nós mesmos e dos outros. Entender quais são as exigências que fazemos aos outros e a nós mesmos e que nos atrapalham nas nossas relações, seria um bom começo para uma vida mais feliz. E para isso não é necessário esperar a Pandemia passar. Um bom processo terapêutico pode iniciar-se agora!

Podemos constatar  como dado inicial na história da  humanidade que se ela, de fato, aprendesse com as catástrofes, não haveriam pandemias repetidas e guerras. Este é um triste dado que os livros de história nos ajudam a verificar. Pensemos, no entanto, de um modo menos pessimista. Algum legado positivo poderá ser vislumbrado se pudermos desenvolver teorias de cuidado  com as pessoas pelas quais possamos evitar mais sofrimento. Muito se tem dito sobre a cooperação entre os países no sentido do trabalho conjunto e articulado para criação de estratégias de cuidado à saúde física e mental das pessoas, com investimentos em pesquisas que controlem e evitem novas epidemias e pandemias por exemplo. Investir financeiramente nas universidades, nos cientistas e pesquisadores, na melhoria das condições de vida dos países mais pobres, na diminuição da pobreza e da fome no mundo podem ser saídas importantes para nossa humanidade. Talvez estes temas ganhem mais visibilidade e força política após este difícil período e nos permita avançar no cuidado com todos os seres humanos.

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