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O que pode a psicanálise no tratamento do autismo?

Escrito em: 19 de outubro de 2023 Autor: Luciana Silviano Brandão
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Essa é uma pergunta crucial e difícil de responder: o que pode a psicanálise diante do tratamento do autista? Precisaríamos de um longo texto para tentar explicar essa questão e não teríamos esgotado esse tema. Tentemos discorrer brevemente alguns pontos importantes.

Partiremos da premissa de que o autismo não é uma psicose, uma vez que já no DSM-II foi considerado como “Distúrbio global do desenvolvimento”. Seis anos mais tarde, foi inscrito no DSM-III-R nos distúrbios “invasivos” do desenvolvimento. Na verdade, a etiologia do autismo permanece nos dias de hoje ainda desconhecida, pois quanto mais as pesquisas da ciência se debruçam sobre a sua origem genética, mais se descobre a complexidade do problema.

Pergunta-se: é crucial saber se o autismo tem uma base genética? Qual o benefício de considerá-la uma patologia incurável e sem saída por ser orgânica? Talvez o único resultado disso seja desconsiderar o sofrimento psíquico do sujeito autista – já que é orgânico, deixemos para lá, pois não há nada a fazer. No entanto, a psicanálise não deixa-se enganar por essa cilada.

Voltando à discussão sobre a diferença do autismo e psicose, contata-se que há ausência de delírio ou alucinação nos primeiros. Outro ponto fundamental nessa diferenciação é que não se observa um desencadeamento da afecção, ela já está lá desde sempre, se tornando evidente na primeira infância.

Apesar de o autismo não estar dentro das psicoses, é evidente a grande dificuldade desses sujeitos na esfera da comunicação, da palavra falada. Alguns não falam nada, outros um pouco mais. Dizemos que essa manobra, a recusa em se comunicar, seja uma tentativa de deixar o mundo imóvel, que exista uma imutabilidade no mundo, que cada objeto esteja em seu lugar, sem surpresas, pois este é sentido como caótico e angustiante. E é exatamente essa manobra do autista que angustia familiares e alguns profissionais desavisados.

Se o autista não é mudo, qual a razão de não falar? A imutabilidade é, juntamente com a solidão, uma forma poderosa contra a angústia.

Mas existem alguns sujeitos que falam. Como? Percebe-se que estes elegem algumas maneiras de se virar com a fala. A primeira maneira seria recusando-a; a segunda a utilização de uma linguagem factual, livre de emoções ou sentidos diversos; a terceira seria através de frases espontâneas que escapam desses sujeitos mudos em momentos de grande angústia.

Jean-Claude Maleval, em relação à fala factual, afirma:

O autista que busca se comunicar se orienta na direção de uma linguagem que descreveria os fatos, sem que ele mesmo tenha que interpretá-los. Assim, seu ideal seria um código que conseguiria conectar as palavras de forma constante e rígida aos objetos ou a situações claramente determinadas. (MALEVAL, 2015)[1]

 

Termino aqui esse brevíssimo texto sem conseguir, como já alertado, conseguir responder à pergunta inicial: o que pode a psicanálise no tratamento do autista? mas apontando que para além da hipótese orgânica, há um sujeito com grande sofrimento tentando se virar no mundo.

Penso que considerar que exista um sujeito além do diagnóstico do autismo, possibilita que haver um tratamento que leve em consideração o modo com que estes sujeitos têm de tratar o impacto do significante sobre o corpo e quais recursos cada um inventa para tratar esses efeitos. O psicanalista especialmente na instituição, como é o caso do Freud Cidadão, pode intervir de maneira que possa ser criado, para cada indivíduo, um circuito próprio que sirva de apoio para sua construção. Através de uma equipe multidisciplinar, é possível encontrar parcerias entre profissionais, pais e a instituição para acolher esses sujeitos.

[1] Disponível em: Opção Lacaniana online nova série, Ano 6 • Número 18 • novembro 2015 • ISSN 2177-2673

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