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A angústia

Escrito em: 30 de junho de 2023 Autor: João Salgado
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No vídeo compartilhado em nossas redes sociais, o psiquiatra Gustavo Alkmin fala da ansiedade e do pânico na visão da psiquiatria. Por meio de um apanhado dos sintomas, a psiquiatria pôde conceitualizar a ansiedade a partir dos fenômenos manifestos, como agitação, nervosismo, irritabilidade, tensão muscular e dificuldade de concentração. Podem manifestar-se ainda sintomas cognitivos, como o medo de morrer, medo de perder o controle, um estranhamento do mundo e de si mesmo.

Tal abordagem psiquiátrica apresenta os sintomas daquilo que constitui, num conjunto, o que se poderia chamar de ansiedade e de pânico. Entretanto, com a psicanálise, a perspectiva no tratamento recai a partir de um novo ângulo: não aquele que se põe sobre o sintoma expressamente manifesto, como uma taquicardia advinda de um encontro com um objeto ou situação que desperta o medo fóbico, mas uma perspectiva sobre o sujeito na sua relação com os outros e com o mundo, a fim de apreender a lógica singular que possibilita tais reações.

Desde Sigmund Freud, a psicanálise se debruça sobre a temática da angústia. Em “Inibição, sintoma e angústia”, de 1926, o autor afirma que a angústia aparece na forma de medo apenas como um sinal-afeto, que aponta para aquilo que causa no sujeito tais reações. Assim, a angústia seria uma espécie de formação substitutiva, que vela um temor inominado e desconhecido ao próprio sujeito.

A angústia pode surgir de maneira difusa, sem nenhum tipo de nomeação, sendo um afeto que atinge sem saber de que direção. Mas a angústia também pode encontrar uma espécie de índice no mundo: o objeto fóbico. Um animal, um tipo de situação social específica, um objeto sobre o qual um sujeito pode localizar tal afeto, racionalizando a angústia. Entretanto, tanto na sua versão difusa quanto na versão fóbica, a angústia remete a um impossível de nomear, impossível de simbolizar.

Baseada em outro texto de Freud, O infamiliar, Carla Capanema (2020) nos diz:

“O aparecimento da angústia se dá quando o sujeito se depara com a unheimlichkeit, isto é, com a inquietante estranheza que é desencadeada com o escancarar repentino de uma janela e com o aparecimento do mais íntimo do sujeito, com aquilo que não pode ser visto […]. Essa é a modalidade do afeto do infamiliar pelo qual o sujeito é tomado quando se depara com alguma coisa extremamente familiar, de casa, íntima, mas ao mesmo tempo hostil, estranho.” (pp. 131-132).

Quando Gustavo Alkmin diz que o tratamento da ansiedade e do pânico passa, para além da medicação, pelo caso a caso, ele remete à lógica singular de um sujeito na sua relação com a angústia, investigada apenas a partir da construção do caso clínico, na escuta atenta às formas do sujeito de se relacionar com os seus semelhantes e na sua maneira de estruturar a sua realidade, naquilo de mais íntimo que, justamente por ser a base da constituição de sua realidade, não pode ser acessado facilmente. Como colocado por Capanema (2020), caberá ao analista o cálculo clínico acerca dos caminhos pelos quais o sujeito poderá elaborar novas soluções, menos danosas ao impasse que a angústia – ou a ansiedade e o pânico – impõem.

 

Capenema, C. A. (2020). “A fobia como manifestação da angústia”. In: (org.) Teixeira, A. M. R., Caldas, H. Psicopatologia Lacaniana, vol. 2: Nosologia. Belo Horizonte: Editora Autêntica

Freud, S. (1977). Inibições, sintomas e ansiedade. In Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. XX). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1926).

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